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Prisão às Rimas – A Esquisita Democracia da Coroa Espanhola

Quinta-feira, 18.02.21

Pablo Hasél tem 32 anos e é um rapper espanhol mas tem um problema: a sua liberdade de expressão num país onde umas pessoas que lá mandam, se não gostarem dessa liberdade, prendem pessoas.

Hasél, estando numa democracia, deve ser livre para dizer o que quiser (ou quase, mas já lá vamos). Por mais horrível que sejam as suas afirmações elas podem ser ditas. Pode dizer que a terra é plana, que as vacinas são venenosas, que o rei é um porco e até que o porco é um rei. São palavras e, se as quisermos atacar devemos atacá-las com desprezo ou com palavras.

Usar o poder que temos para mandar calar forçosamente alguém é péssimo por dois motivos:

1- Se a pessoa estiver errada ninguém a vai corrigir, apenas irá ser silenciada sem que ela seja instruída.

2- Se a pessoa que diz coisas estiver certa, não haverá correcção pois ela foi silenciada. Além disso calar alguém é uma demonstração de que esse alguém poderá ter mesmo razão e, também, demonstra falta de argumentação por parte de quem silencia.

 

Algumas das frases de Hasél são estas:

 

"O carro do Patxi López merece explodir!"

- "Não tenho pena por teres sido baleado no pescoço, socialista"

- "Alguém espete um machado de gelo na cabeça do José Bono"

- " Pena de morte para as Infantas patéticas, que gastam o nosso dinheiro em operações plásticas"


Por mais execrável que sejam, elas podem ser ditas. Se não gostarmos podemos desprezá-las ou argumentar contra elas. Mas há um limite à liberdade de expressão? Sim, quando se sai do limite dessa liberdade e passamos a impedir a liberdade de outros com o alargar do meu limite. Eu tenho liberdade para dizer: “aquele preto é feio”. É uma frase que eu não gosto mas é uma frase. Mas eu posso achar que tenho liberdade para dizer a mesma frase a um grupo de pessoas nervosas e com ódio e facas, mas essa frase vai, com certeza, limitar a liberdade e a vida daquele preto feio, mesmo que ele não seja feio.

Se vamos prender uma pessoa por escrever coisas que alguém com poder não gosta, então vamos prender, por ignorância geográfica, a cantora Sade, que na sua balada “Smooth operator” canta “de costa a costa, de Los Angeles a Chicago”, sendo que Chicago não fica na outra costa dos Estados Unidos. Isto pode irritar muito as pessoas de Chicago. Outro exemplo é a letra da música “War song”, dos Culture Club que começa com a frase “Guerra, guerra é estúpida e as pessoas são estúpidas”.

A liberdade não é o que o vizinho acha que eu posso fazer. A liberdade é o que eu posso fazer até ao limite em que posso fazer mal ao meu vizinho.

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publicado por Dário Cardina às 12:43

A Liberdade Cantada no Lapo

Sexta-feira, 12.02.21

 No dia 11 de Fevereiro ocorreu, num restaurante de Lisboa, no restaurante/associação cultural Lapo, mais uma manifestação a favor da liberdade individual. A mensagem era de que a liberdade tem de se fazer exercer e que devemos fazer o que é melhor para cada um de nós: abrir os negócios.

A liberdade é algo conseguido há mais de 40 anos cá em Portugal e é, de facto, maravilhoso termos liberdade de expressão. Mas não nos podemos esquecer o que significa ser livre e a diferença entre liberdade e egoísmo ignorante.

Tenho liberdade de pensar e dizer coisas? Tenho mas torna-se perigoso quando aquilo que digo vai influenciar de forma física outra pessoa. Vimos no que deu a liberdade de Donald Trump em dizer “vamos invadir o Capitólio!” perante um grupo de furiosos dispostos a partir e matar. Todos vimos Trump e todos vimos os energúmenos a marchar em nome de uma liberdade, mas todos estavam presos a uma ideologia, ela mesma presa num fanatismo que não deixa o pensamento escapar de duas palas bem opacas.

Estamos há mais de um ano a lutar contra algo que não se vê a olho nu e, por isso, para algumas pessoas o que não se vê é mentira. Só que, pessoas que trabalham com equipamentos sofisticados de análise e visualização do muito pequeno conseguem ver e estudar essas estruturas muito pequenas: os vírus. E não, não são mentiras, são bem reais.

Um grupo de pessoas pode ser livre o suficiente para se juntar, sem máscaras? Teria, se fosse possível mantê-los assim por 10 dias sem sintomas e sem presença do vírus SARS-CoV-2. No entanto, a liberdade deles não permitiria estar 10 dias seguidos a proclamar a liberdade. Entretanto, vão surgindo em diversos pontos, mais casos de proclamação da liberdade incentivados uns pelos outros. E agora? Mantemos a liberdade e voltamos aos 15 mil casos diários ou mais? Ou limitamos a liberdade para chegar aos mil casos diários?

Estes grupos acham que são muito livres ao proclamar a liberdade individual e esquecem-se de que têm de conduzir pela direita, parar no semáforo vermelho, usar cinto de segurança, etc. Todos temos uma zona de liberdades mas se sairmos dela estamos a limitar a liberdade dos outros. Pensando de forma egoísta, para mim é melhor passar no semáforo vermelho porque estou com pressa ou conduzir pela esquerda porque há mais trânsito na outra via. Mas isso é melhor para mim? E para os outros? E para todos? As regras existem porque é a maneira de haver menos danos a todos. Pode ser chato eu parar no semáforo vermelho se tiver pressa mas existe um elevado potencial de sobrevivência. Não sou livre se ficar parado num semáforo vermelho mas, com isso, estou a deixar outras pessoas livres, enquanto eu continuo a viver, apesar de me atrasar um pouco.

É melhor limitar a liberdade ou deixar estar? Não podemos ver essa questão só por uma pessoa. Temos de olhar de cima, para a população e ter algum conhecimento se quisermos ter fundamento na nossa posição. Ou seja, deixar o egoísmo e a ignorância. Podemos cantar a liberdade? Podemos mas não contra o Governo, que nos quer livres o mais depressa possível, nem contra o vírus, que não têm ouvidos. Aqui ninguém está a ser ditador. O vírus quer multiplicar-se e nós, para sermos livres como população saudável, temos de aceitar as regras que permitem isso: evitar a transmissão viral.

Só vamos ser livres quando todos limitarmos a nossa liberdade por um tempo. Parece um contrassenso mas não é

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publicado por Dário Cardina às 18:59





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